15 de setembro de 2011 |
As atividades dos Festejos Farroupilhas não param por todo o Estado. Ontem, o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Erival Bertolini, participou do acendimento da Chama Crioula em seis pontos de Porto Alegre. Acompanharam o dirigente, a 2ª Prenda do Rio Grande do Sul, Muriel Machado Lopes, e o Peão Destaque Campeiro do Estado, Rodrigo Schneider, e estiveram presentes o patrono de 2011, Alcy Cheuiche; o presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Rodi Pedro Borghetti; e autoridades dos três poderes.
O primeiro compromisso foi em frente ao Palácio Piratini. Pilchado, o governador Tarso Genro afirmou que o fogo simbólico orgulha e une o Rio Grande do Sul em torno dos compromissos de liberdade igualdade e humanidade. “O que devemos fazer é reconstituir de forma permanente esses compromissos. Por sua história exemplar, pelos seus homens públicos, por sua academia, trabalhadores, por seus setores empresarias e por seus movimentos sociais e que sabem resolver as suas pendências no âmbito da democracia e no âmbito do respeito às diferenças”, completou.
Já na opinião de Cheuiche, além da afirmação da identidade do Estado, a celebração representa o sonho de um Brasil republicano. “Deixamos essa marca para hoje e para sempre. Pode ter certeza, que comemoramos uma das datas mais importantes da história do Brasil”, afirmou. A Chama Crioula permanecerá no Palácio Piratini até o dia 20 de setembro, data do início da Revolução Farroupilha, em 1835.
ASSEMBLEIA
Depois, os tradicionalistas rumaram para o Parlamento gaúcho. A cerimônia ocorreu no Recanto Gaúcho – Espaço Nico Fagundes, também conhecido como Galpão Crioulo. “Atos como esse não são só oratória, são um resgate de 10 anos de luta pela liberdade, pela constituição, pelo estado de direito e por princípios e bandeiras que devem ser defendidos e lembrados por todas as gerações”, disse o presidente do Legislativo, o deputado Adão Villaverde.
Bertolini aproveitou a ocasião para fazer um apelo aos parlamentares para que apoiem a proposta de criar em todas as escolas estaduais um departamento tradicionalista, para ensinar e cultivar junto aos estudantes os costumes gauchescos. “Posso garantir que nas instituições de ensino onde isso já ocorre, temos muito menos problemas de violência entre os jovens”, declarou.
PREFEITURA
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, recebeu a centelha das mãos do Diretor de Cavalgada da 1ª Região Tradicionalista, Solon Silva. O chefe do Executivo saudou os cavalarianos e integrantes do MTG, falando da proposta de transformar o espaço do Acampamento Farroupilha em parque temático. “Aquela área tem que ser um local de valorização das tradições e dos costumes do nosso povo”, afirmou o prefeito. Já Bertolini enfatizou que a tradição do acendimento da centelha demonstra a importância dos costumes para o povo do Rio Grande do Sul. “Este é o símbolo da chama que arde dentro de nós”, salientou.
Após a cerimônia, os cavalarianos seguiram para o Monumento a Bento Gonçalves, na avenida João Pessoa, e ao Monumento dos Maçons Imperiais e Republicanos, na esquina das avenidas Azenha e João Pessoa, onde iniciou a Revolução Farroupilha. O roteiro ainda incluiu a Câmara Municipal, antes do retorno ao Acampamento Farroupilha.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A Chama Crioula
Num ambiente em que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas, ressurge o sentimento de orgulho das coisas tradicionais que, a rigor, naquele momento só tinham algum destaque quando a Brigada Militar reverenciava a figura do General Bento Gonçalves da Silva, em solenidade que realizava a cada 20 de setembro em frente ao monumento erguido na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.
No mês de agosto de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre, liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil. O Departamento destinava-se a estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais recreativas. Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que levantava-se em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha.
Aprovada a idéia, o Grêmio Estudantil do “Julinho”, enviou a Imprensa da Capital, um comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: “O Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das tradições gaúchas, fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos, o das Tradições Gaúchas, procurando assim, preservar este legado imenso dos nossos antepassados, constituído do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelo sentimento de igualdade e humanidade”.
No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de Castilhos decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.
O programa previa o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro baile gauchesco que aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de setembro à noite, concursos de trajes regionais, palestras, concurso literário e uma série de momentos eqüestres. A decoração do local era feita de apetrechos campeiros (laços, guampas, pelegos, ninhos de João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se esquentava água para chimarrão e assava-se uma carne.
Participam como convidados especiais o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o desenhista de motivos campeiros e declamador gauchesco, Amândio Bicca. A eles coube julgar os gaúchos e as prendas mais tipicamente vestidos, sendo que a presença do ilustre historiador Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte impressão ao proferir um inflamado discurso às causas regionalistas, manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar. À beira de um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação civil gauchesca. Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular.
Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos. Lá acenderia um candeeiro típico, num altar cívico como parte das comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado.
Naquele ano de 1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major Darci Vignoli incluiu na programação alusiva à Semana da Pátria, a transladação dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro, de Sant’Ana do Livramento para o Panteão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Para este acontecimento tão importante, entendeu o Major Vignoli que era do maior significado cívico que a guarda de honra fosse composta por uma representação de gaúchos tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o Império.
Diante da inexistência de uma representação com estas qualidades, o Presidente da Liga solicitou ao Departamento de Tradições do “Julinho” um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do grande Herói Farrapo.
Com muito custo Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito componentes.
Estava formado o Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a história, no 1º Congresso realizado em julho de 1954 em Santa Maria, quando foi batizado como o “Grupo dos Oito”.
Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente montados, aguardavam junto a Pira.
Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene presa a ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu aquela que seria a primeira Chama Crioula. Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde acenderam o Candeeiro Crioulo.
A Chama Crioula é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição Gaúcha. Representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas, com os ideais de justiça e liberdade, visando a aproximação dos povos.
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