15 de setembro de 2011 |
As atividades dos Festejos Farroupilhas não param por todo o Estado. Ontem, o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Erival Bertolini, participou do acendimento da Chama Crioula em seis pontos de Porto Alegre. Acompanharam o dirigente, a 2ª Prenda do Rio Grande do Sul, Muriel Machado Lopes, e o Peão Destaque Campeiro do Estado, Rodrigo Schneider, e estiveram presentes o patrono de 2011, Alcy Cheuiche; o presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Rodi Pedro Borghetti; e autoridades dos três poderes.
O primeiro compromisso foi em frente ao Palácio Piratini. Pilchado, o governador Tarso Genro afirmou que o fogo simbólico orgulha e une o Rio Grande do Sul em torno dos compromissos de liberdade igualdade e humanidade. “O que devemos fazer é reconstituir de forma permanente esses compromissos. Por sua história exemplar, pelos seus homens públicos, por sua academia, trabalhadores, por seus setores empresarias e por seus movimentos sociais e que sabem resolver as suas pendências no âmbito da democracia e no âmbito do respeito às diferenças”, completou.
Já na opinião de Cheuiche, além da afirmação da identidade do Estado, a celebração representa o sonho de um Brasil republicano. “Deixamos essa marca para hoje e para sempre. Pode ter certeza, que comemoramos uma das datas mais importantes da história do Brasil”, afirmou. A Chama Crioula permanecerá no Palácio Piratini até o dia 20 de setembro, data do início da Revolução Farroupilha, em 1835.
ASSEMBLEIA
Depois, os tradicionalistas rumaram para o Parlamento gaúcho. A cerimônia ocorreu no Recanto Gaúcho – Espaço Nico Fagundes, também conhecido como Galpão Crioulo. “Atos como esse não são só oratória, são um resgate de 10 anos de luta pela liberdade, pela constituição, pelo estado de direito e por princípios e bandeiras que devem ser defendidos e lembrados por todas as gerações”, disse o presidente do Legislativo, o deputado Adão Villaverde.
Bertolini aproveitou a ocasião para fazer um apelo aos parlamentares para que apoiem a proposta de criar em todas as escolas estaduais um departamento tradicionalista, para ensinar e cultivar junto aos estudantes os costumes gauchescos. “Posso garantir que nas instituições de ensino onde isso já ocorre, temos muito menos problemas de violência entre os jovens”, declarou.
PREFEITURA
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, recebeu a centelha das mãos do Diretor de Cavalgada da 1ª Região Tradicionalista, Solon Silva. O chefe do Executivo saudou os cavalarianos e integrantes do MTG, falando da proposta de transformar o espaço do Acampamento Farroupilha em parque temático. “Aquela área tem que ser um local de valorização das tradições e dos costumes do nosso povo”, afirmou o prefeito. Já Bertolini enfatizou que a tradição do acendimento da centelha demonstra a importância dos costumes para o povo do Rio Grande do Sul. “Este é o símbolo da chama que arde dentro de nós”, salientou.
Após a cerimônia, os cavalarianos seguiram para o Monumento a Bento Gonçalves, na avenida João Pessoa, e ao Monumento dos Maçons Imperiais e Republicanos, na esquina das avenidas Azenha e João Pessoa, onde iniciou a Revolução Farroupilha. O roteiro ainda incluiu a Câmara Municipal, antes do retorno ao Acampamento Farroupilha.
Campeiros e Cavalos
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A Chama Crioula
Num ambiente em que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas, ressurge o sentimento de orgulho das coisas tradicionais que, a rigor, naquele momento só tinham algum destaque quando a Brigada Militar reverenciava a figura do General Bento Gonçalves da Silva, em solenidade que realizava a cada 20 de setembro em frente ao monumento erguido na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.
No mês de agosto de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre, liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil. O Departamento destinava-se a estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais recreativas. Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que levantava-se em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha.
Aprovada a idéia, o Grêmio Estudantil do “Julinho”, enviou a Imprensa da Capital, um comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: “O Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das tradições gaúchas, fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos, o das Tradições Gaúchas, procurando assim, preservar este legado imenso dos nossos antepassados, constituído do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelo sentimento de igualdade e humanidade”.
No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de Castilhos decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.
O programa previa o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro baile gauchesco que aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de setembro à noite, concursos de trajes regionais, palestras, concurso literário e uma série de momentos eqüestres. A decoração do local era feita de apetrechos campeiros (laços, guampas, pelegos, ninhos de João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se esquentava água para chimarrão e assava-se uma carne.
Participam como convidados especiais o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o desenhista de motivos campeiros e declamador gauchesco, Amândio Bicca. A eles coube julgar os gaúchos e as prendas mais tipicamente vestidos, sendo que a presença do ilustre historiador Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte impressão ao proferir um inflamado discurso às causas regionalistas, manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar. À beira de um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação civil gauchesca. Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular.
Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos. Lá acenderia um candeeiro típico, num altar cívico como parte das comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado.
Naquele ano de 1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major Darci Vignoli incluiu na programação alusiva à Semana da Pátria, a transladação dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro, de Sant’Ana do Livramento para o Panteão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Para este acontecimento tão importante, entendeu o Major Vignoli que era do maior significado cívico que a guarda de honra fosse composta por uma representação de gaúchos tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o Império.
Diante da inexistência de uma representação com estas qualidades, o Presidente da Liga solicitou ao Departamento de Tradições do “Julinho” um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do grande Herói Farrapo.
Com muito custo Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito componentes.
Estava formado o Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a história, no 1º Congresso realizado em julho de 1954 em Santa Maria, quando foi batizado como o “Grupo dos Oito”.
Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente montados, aguardavam junto a Pira.
Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene presa a ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu aquela que seria a primeira Chama Crioula. Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde acenderam o Candeeiro Crioulo.
A Chama Crioula é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição Gaúcha. Representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas, com os ideais de justiça e liberdade, visando a aproximação dos povos.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Depoimento de um Paulista sobre o Rio Grande do Sul
Aos gaúchos e não gaúchos - Ressentimentos passivos?
O Brasil tem milhões de brasileiros que
gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e
exclamam 'que horror'.
Sabem do roubo do político
e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados
ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia
no programa dominical de televisão
e dizem 'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.
Pois recentemente estive em Porto Alegre ,
onde pude apreciar atitudes com as quais
não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não
existe na São Paulo que, sendo de
todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul,
palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador
anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa,
todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '
.
Em seguida um casal, sentado do meu lado,
prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de
mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca
na bomba, mesmo pessoas que não se
conhecem. Aquilo cria um espírito de
comunidade ao qual eu, paulista,
não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru,
nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar
o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que
São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos'
se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra
os escândalos, a corrupção e o deboche
que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva,
algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade
de mobilização. Não têm mais interesse
por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados,
sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa
cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá
partir das comunidades que ainda têm
essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos
é que levantarão a bandeira. Que buscarão
em suas raízes a indignação que não se
encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho
me juntarei a eles.
De minha parte, eu
acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'
Arnaldo Jabor
O Brasil tem milhões de brasileiros que
gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e
exclamam 'que horror'.
Sabem do roubo do político
e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados
ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia
no programa dominical de televisão
e dizem 'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.
Pois recentemente estive em Porto Alegre ,
onde pude apreciar atitudes com as quais
não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não
existe na São Paulo que, sendo de
todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul,
palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador
anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa,
todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '
.
Em seguida um casal, sentado do meu lado,
prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de
mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca
na bomba, mesmo pessoas que não se
conhecem. Aquilo cria um espírito de
comunidade ao qual eu, paulista,
não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru,
nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar
o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que
São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos'
se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra
os escândalos, a corrupção e o deboche
que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva,
algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade
de mobilização. Não têm mais interesse
por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados,
sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa
cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá
partir das comunidades que ainda têm
essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos
é que levantarão a bandeira. Que buscarão
em suas raízes a indignação que não se
encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho
me juntarei a eles.
De minha parte, eu
acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'
Arnaldo Jabor
quinta-feira, 14 de julho de 2011
ISSO É QUERÊNCIA, ISTO É PÁTRIA, ISSO É NAÇÃO !!!
CRIAÇÃO DA CARTA DE PRINCÍPIOS | ||
Bravos homens idealizaram um movimento de extrema grandeza cultural, mas não imaginavam que suas idéias fossem tão bem aceitas e difundidas rapidamente, que o fizesse grandioso também em número. Isto nada mais fez do que confirmar quão glorioso foi esta idealização. Todo crescimento rápido pode ter conseqüências desastrosas. Além disso, o governo e o exército tinham naquele grupo de jovens certa desconfiança, pois exaltavam a Revolução Farroupilha, seus mentores e conseqüentemente o “20 de setembro”, levando os poderes constituídos a conclusões que pendiam para o lado revolucionário e separatista. Foi então que Glaucus Saraiva, considerado extremamente inteligente e com a mente de certa forma avançada para a época, se sensibilizou e, por ser muito reservado, fez de forma solitária um documento que, depois de concluído, foi apresentado como sugestão a ser seguido pelos tradicionalistas. Tal documento foi de extrema importância, fazendo com que o exército o enxergasse com outros olhos, percebendo que o movimento queria andar lado a lado com os governantes. O Conselho Coordenador reconhecendo sua importância para o bom prosseguimento do movimento, decidiu oficializar a Carta de Princípios, que foi aprovada no 8 º Congresso Tradicionalista, realizado na cidade de Taquara, de 20 à 23 de julho de 1961, no CTG O Fogão Gaúcho. A partir deste momento ela começou a ser vista como uma lei a ser cumprida, causando uma certa revolta nos gaúchos, que não aceitavam ser mandados, defendendo a idéia de que gaúcho é macho, não recebe ordens de ninguém e é dono de suas próprias razões. Dentro do movimento, seus efeitos foram para nortear um rumo a ser seguido, pois na época o que prevalecia eram as contradições, onde cada CTG procurava inclinar-se para seu lado, fazendo com que não existisse unanimidade. Para o bom funcionamento era necessário e de fundamental importância, um perfeito conhecimento e interpretação da mesma. Aos poucos os gaúchos foram aceitando-a e começaram a perceber que ela só ajudaria o movimento a crescer e que seu objetivo não era obrigar e sim orientar. Hoje essa carta integra o Regulamento do Estatuto do MTG e é a primeira diretriz aprovada no tradicionalismo. Até os dias de hoje a Carta de Princípios continua, de um certo modo, de conhecimento restrito dentro do movimento, tendo este prospecto sofrido sensíveis alterações nos últimos anos, devido a importância dada pelo MTG, fazendo dela assunto de trabalhos realizados, como este de hoje. Seguindo as palavras do Senhor Ciro Dutra Ferreira e Vilson de Souza, na época de sua criação um dos objetivos mais importantes foi o art. XI, que trata do respeito as leis e os poderes públicos legalmente constituídos, que fez com que o exército e o governo vissem com outros olhos aquele grupo de jovens. E o mais importante nos dias de hoje é o art. XXIX que valoriza e exalta o homem do campo. E dentro deste item salientou a importância do surgimento dos laçadores urbanos, como exemplo, que trazem para a cidade uma parte da realidade da vida rural. Em poucas palavras podemos destacar como conclusão final que, através da difusão e preservação da nossa cultura e de nossos valores morais, temos a possibilidade de dar base a uma sociedade harmônica, colaborando assim com o bem coletivo, o progresso e a evolução de um povo que tem como ideal os princípios de Liberdade, Igualdade e Humanidade. FONTE: 1º FÓRUM TRADICIONALISTA – 40 ANOS DA CARTA DE PRINCÍPIOS | ||
ASPECTOS DA CARTA DE PRINCÍPIOS | ||
A carta de princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho escrita por Glaucus da Fonseca e apresentada, primeiramente, no 7º Congresso Tradicionalista, de 20 a 23 de Outubro de 1960, na cidade de Santo Ângelo, no CTG “20 de Setembro” 3ª RT, tendo sido aceita pelos delegados. Na ocasião, foi nomeada uma comissão para apreciar o conteúdo e apresentá-la por ocasião do próximo Congresso. Assim, com parecer favorável, o documento foi aprovado no 8º Congresso Tradicionalista, de 20 a 23 de outubro de1961, realizado na cidade de Taquara/ 22ª RT, no CTG “Fogo de Chão”. Por deliberação da 11ª Convenção Tradicionalista, realizada no ano de 1977, na cidade de Santana do Livramento, o documento passou a constituir, na sua integra, o Art. 10 do Regulamento do Movimento tradicionalista Gaúcho. A carta de princípios é a primeira e principal diretriz filosófica do Tradicionalismo, é o documento máximo a nortear e a orientar as atividades do Movimento Tradicionalista Gaúcho, através das Regiões Tradicionalistas e suas entidades filiadas. Por ocasião do 36º Congresso Tradicionalista Gaúcho, de 10 a 13 de janeiro de 1991, no CTG “Júlio de Castilhos”, na cidade de Júlio de Castilhos/ 9ª RT, Dinara Paixão e Adriana de Rosa Yop apresentaram e aprovaram a proposta de realizar, por ocasião dos 30 anos do legado ideológico, um encontro estadual para estudo e reavaliação da Carta de Princípios do MTG. O referido aconteceu em Santa Maria, no DT “Querência das Dores” nos dias 12, 13 e 14 de Julho de 1991. Sob a Coordenação de Dinara Paixão, os trabalhos foram divididos em cinco grupos: →Grupo 1: Aspectos Éticos; →Grupo 2: Aspectos Cívicos; →Grupo 3: Aspectos Culturais; →Grupo 4: Aspectos estruturais; →Grupo 5: Aspectos Filosóficos. Dentre outras conclusões, os participantes decidiram aprovar, por unanimidade, que: “ A Carta de Princípios do Tradicionalismo é resultado de um momento de inspiração e qualquer modificação no seu conteúdo, seria destruir seu valor, como símbolo já aceitos a longos anos. É válida ainda hoje, a preocupação é viável a sua implantação no seio Tradicionalista”. (Paixão, 1995, p. 110). | ||
SIGNIFICADO DOS ASPECTOS DO DOCUMENTO | ||
-------------------------------------- 1- ASPECTOS ÉTICOS -------------------------------------- É a parte da Filosofia e da Teologia, também chamada de Moral, cujo objeto, como ciência, são as leis ideais da verdade moral e, como arte, as regras idôneas para governar, com acerto, a própria vida. Ética constitui-se na reflexão do comportamento moral dos homens, enquanto vivem na sociedade. É a reflexão, que propõem princípios para a ação. A ação como base nesses princípios, torna-se ética. A moral é a aplicação de princípios ou normas de comportamento humano. Todos os grupos humanos preservam seus valores fundamentais, transformando-os em normas, que devem ser seguidas por todos seus membros. A reflexão ética é o ato de repensar as normas e com estes princípios são aplicados ao comportamento humano devendo elevar e realizar a condição humana e a própria natureza. Os aspectos éticos da Carta de Princípios são: Art. 3º- Promover no seio do povo, uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho. Art. 12- Evitar todas formas de vaidade e personalismo. Art. 13- Evitar toda e qualquer manifestação individual ou coletiva, movida por interesses subterrâneos de natureza política, religiosa ou financeira. Art. 14- Evitar atitudes pessoais ou coletivas, que deslustrem e venham em destrimento dos princípios da formação moral do gaúcho. Art. 15- Evitar que núcleos tradicionalistas adotem nomes de pessoas vivas. Art. 16- Repudiar, enfim, todas as manifestações e formas negativas de exploração direta ou indireta do Movimento Tradicionalista. --------------------------------------- 2- ASPECTOS CÍVICOS --------------------------------------- Civismo não é o simples ensinamento de regras de comportamento, mas é a atuação consciente e esclarecida do cidadão, no seio da comunidade, através do cumprimento dos seus deveres de cidadania e do seu esforço em contribuir para o progresso e engrandecimento de sua Pátria. A vivência do civismo se processa em círculos concêntricos, cujos perímetros vão desde o lar, passando pela vizinhança, bairro, cidade, país e mundo, abrangendo, em cada um dos círculos, uma série de relações humanas, cada vez mais amplas e mais gerais. É no lar. No seio da família, que começa a ser formado o ser cidadão consciente de seus deveres e dos seus direitos. Somente a educação bem conduzida, formativa ao invés de informativa, pode proporcionar ao indivíduo, condições de discernimento, que lhe permitam vencer a tendência natural ao egoísmo à imitação e á massificação, levando-o a realizar, de maneira mais plena e mais perfeita, a perfeita, à própria personalidade, fermento benéfico, que influirá sobre os outros indivíduos, concorrendo para um melhor nível intelectual, espiritual e moral da humanidade. São os seguintes itens do aspecto cívico da Carta de Princípios: Art. 2º- Cultuar e difundir a nossa história, nossa formação social, nosso Folclore, enfim, nossa tradição, como substância basilar de nacionalidade. Art. 23- Comemorar e respeitar as datas efemérides e vultos nacionais e particularmente, o dia 20 de setembro, como data máxima do Rio Grande do Sul. Art. 24- Lutar para que seja instituído, oficialmente, o dia do gaúcho, em paridade de condições com o “Dia do Colono” e outros “dias” respeitados publicamente. Art. 26- Revalidar e reafirmar os valores fundamentais de nossa formação, apontando às novas gerações rumos definidos de cultura, civismo e nacionalidade. Art. 27- Procurar o despertamento de consciência para o espírito cívico de cada unidade e amor á Pátria. Art. 29- Buscar, finalmente, a conquista de um Estágio de força social, que lhe dê ressonância nos Poderes Públicos e nas classes rio-grandense para atuar real poderosa e eficientemente, no levantamento dos padrões de moral e de vida do nosso Estado, rumando, fortalecido, para o campo e o homem rural, suas raízes primordiais, cumprindo, assim, sua alta destinação histórica em nossa Pátria. -------------------------------------------- 3- ASPECTOS CULTURAIS -------------------------------------------- Segundo as ciências humanas, cultura tem duplo sentido: um subjetivo e outro objetivo. O sentido subjetivo de cultura, conota a idéia de um alto grau de desenvolvimento das capacidades intelectuais do homem. No sentido objetivo, cultura refere-se a todo o conjunto de criações, pelas quais o espírito humano marcou sua presença na história. Segundo a objetividade, o termo cultura é um fenômeno essencialmente social, criado pelo grupo, por ele transmitido no tempo, de geração à geração, e difundido no espaço, propiciando as combinações mais ricas e complexas dos fenômenos de aculturação. São os Seguintes aspectos culturais da Carta de Princípios: Art. 4º- Facilitar e cooperar com a evolução e o progresso, buscando a harmonia social, criando a consciência do valor coletivo, combatendo o enfraquecimento da cultura comum e a desagregação que daí resultado. Art. 6º- Preservar nosso patrimônio sociológico representado, principalmente, pelo linguajar, vestimenta, arte culinária, forma de lides e artes populares. Art. 8º- Estimular e incentivar o processo aculturativo do elemento imigrante e seus descendentes. Art. 19- Influir na literatura, artes clássicas e populares e outras formas de expressão espiritual de nossa gente, no sentido de que se voltem para os temas nativistas. Art. 20- Zelar pela pureza e fidelidade de nossos costumes autênticos, combatendo todas as manifestações individuais ou coletivas, que artificializem ou descaracterizem as nossas coisas tradicionais. Art. 28- Pugnar pela fraternidade e maior aproximação dos povos americanos. ------------------------------------------------ 4- ASPECTOS ESTRUTURAIS ------------------------------------------------ O indivíduo é um ser eminente social, logo vive em sociedade, onde desempenha uma série de papéis, de funções, junto aos grupos sociais, junto aos grupos permanentes, cujos papéis persistem independentemente de tal ou qual pessoa. Por isso, podemos afirmar que os papéis são mais estáveis, que os próprios ocupantes. Os grupos e os papéis são definidos e delimitados por meio de normas, cuja interação social, não depende só dos padrões normativos, mas podemos dizer que os papéis e grupos de diversos tipos são partes de uma Estrutura Social, na medida em que a estabilidade, regularidade e repetição na interação social se devem a normas sociais, que definem as funções e obrigações dos indivíduos e grupos. A estrutura social inclui os seguintes elementos: → papéis de vários tipos, dentro da sociedade ou dentro de cada grupo, cada papel relacionado com outros, através de normas; → grupos de diversos tipos, coordenados entre si por normas reguladoras; → normas que dirigem os grupos e papéis; → valores culturais. As normas e valores tendem a se cristalizar em cada sociedade, em sistemas institucionais dotados de certa estabilidade que garantem a sua permanência, não obtendo as modificações eventuais de detalhes que ocorram. São os seguintes aspectos estruturais da Carta de Princípios: Art. 1º- Auxiliar o Estado na solução de seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo. Art. 11- Acatar e respeitar as leis e os poderes públicos legalmente constituídos, enquanto se mantiverem dentro dos princípios do regime democrático vigente. Art. 17- Prestigiar e estimular quaisquer iniciativas que, sincera e honestamente, queiram perseguir objetivos correlatos com os do tradicionalismo. Art. 21- Estimular e amparar as células que fazem parte de seu organismo social. Art. 22- Procurar penetrar e atuar nas instituições públicas e privadas, principalmente nos colégios e o seio do povo, buscando conquistar para o MTG a boa vontade e a participação dos representantes de todas classes e profissões. Art. 29- Buscar, finalmente, a conquista de um estágio de força social, que lhe dê ressonância nos Poderes Públicos e nas Classes Rio- grandenses, para atuar real, poderosa e eficientemente, no levantamento dos padrões morais de vida do nosso Estado, rumando fortalecido para o campo e o homem rural, suas raízes primordiais, cumprindo assim, sua alta destinação histórica em nossa Pátria. ----------------------------------------------- 5- ASPECTOS FILOSÓFICOS ----------------------------------------------- A Filosofia é a ciência geral do conhecimento das coisa por suas causas ou primeiros princípios. É o sistema de princípios, que tem por objeto agrupar uma certa ordem de fatos para explicar, cada um dos sistemas particulares de filosofia; doutrina filosófica. São os seguintes aspectos filosóficos da Carta de Princípios: Art. 5º- Criar barreiras aos fatores e idéias, que nos vêm pelos veículos normais de propaganda e que sejam diametralmente opostos ou antagônicos aos costumes e pendores naturais do nosso povo. Art. 7º- Fazer de cada CTG um núcleo transmissor da herança social e através de reações emocionais etc.; criar, em nossos grupos sociais uma unidade psicológica, com modos de agir e pensar coletivamente, valorizando e ajustando o homem ao meio, para a reação em conjunto frente aos problemas comuns. Art. 9º- Lutar pelos direitos humanos de liberdade, igualdade e humanidade. Art. 10- Respeitar e fazer respeitar seus postulados iniciais, que têm como característica essencial absoluta independência de sectarismo político, religioso e racial. Art. 18- Incentivar, todas formas de divulgação e propaganda, o uso sadio dos autênticos motivos regionais. Art. 25- Pugnar pela independência psicológica e ideológica do nosso povo. fonte: site do MTG |
cavalo crioulo de R$ 1.750.000 ( é isso mesmo tchê !! um milhão setesentos e cinquenta mil... )
Cavalo da raça crioula é arrematado por R$ 1,75 milhão em leilão no Sul
Arrematado por R$ 1,75 milhão, o Santa Elba Comediante foi responsável por mais um recorde da raça crioula. É o valor mais alto pago pela compra de um exemplar inteiro da raça.
Com a oferta de 35 lotes em pista, o leilão da Cabanha Butiá foi realizado nessa quinta, dia 10, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O recorde foi garantido pela formação de um condomínio de oito cabanhas (Liberdade, Castanheiros, 3J, Don Marcelino, Estância São Pedro, Santo Expedito, Agropecuária Burtet e do Parque), que adquiriu a totalidade do exemplar. A grande aposta das cabanhas é qualificar o plantel com a genética de Comediante, pai de animais premiados nas pistas.
— É o reprodutor vivo mais importante da raça. Com El Capacito Grego e CRT Guapo, o Comediante será um dos nossos principais garanhões — diz Evaldo Rosa, da Estância Liberdade.
A Estância Liberdade também fez parte do condomínio que adquiriu 25% de Guapo, no ano passado, outro recorde da raça. Cada cota de 5% do cavalo foi vendida a R$ 250 mil, e o criatório detém três cotas do animal.
O alto valor pago por Comediante tem explicação: a Cabanha Butiá é dona de uma genética reconhecida e de animais de destaque em competições como o Freio de Ouro. O remate oferecia parte dos melhores exemplares do plantel.
— Nosso objetivo é movimentar o mercado, e aproveitar que a raça está valorizada para estabelecer um novo patamar de preços — explica Marcelo Bertagnolli, sócio-proprietário da Cabanha Butiá.
História da faca gaúcha...
Gaúchos de faca na bota
J. C. Paixão Cortes
Há dias comentando com o grande vate da nossa poesia regionalista, Glauco Saraiva, sobre a importância que o gaúcho dá à faca e suas múltiplas utilidades, reunimos juntos uma série de anotações, das quais extraí em síntese as seguintes:
A faca
• Do paleolítico à idade dos metais, a faca acompanha a história da humanidade.
• Aço... Damasco, Toledo, lança, espada, adaga e faca. Impérios, conquistas, invasões, vitórias, derrotas, domínios... assim o homem escreveu a própria história.
• Na América... espanhóis e portugueses. A lança e as espadas definiram as fronteiras sul-americanas. A miscigenação racial e o meio plasmaram os tipos humanos.
• O Pampa e a guerra, e o pastoreio. Gaúcho, tipo característico da América do Sul.
• Peleia, faca, adaga, boleadeiras e mango.
• Dificilmente definiríamos a história social do gaúcho, sem a complementação da faca. Na luta, no trabalho, nas lides domésticas, nas artes campeiras, na lenda, na superstição.
• Da infância da terra à maturidade histórica, a faca é uma constante na vida do gaúcho primitivo, tirou as botas "garrão de potro" e nestas aprestilhou as velhas esporas "nazarenas" com rosetas pontiagudas que impulsionaram o cavalo.
• Com a faca talhou o couro para retovar as três pedras das boleadeiras, indispensáveis outrora nas lides campeiras e temíveis na guerra. E atou a faca na ponta de uma taquara, quando os clarins reclamaram as lanças crioulas nas extremaduras da Pátria.
• O gaúcho primitivo desprezou a arma de fogo e a nobreza da luta estava no ferro branco.
• Com a faca o gaúcho agrediu e defendeu. Faca "voluntária" numa peleia... Faca que, debaixo dos pelegos, tranquiliza o sono.
• Com a faca o gaúcho cortava a própria melena ou "aparava trança de china". Tosava de cola e crina e aparava os casos do pingo nas vésperas de carreira.
• O guasca enamorado, com a faca apanhou a flor que ofereceu à sua amada. Beijando a cruz da adaga o guasca traído jurou vingança. E o "aço que canta" corcoveava na bainha bordada de flores.
• Com a faca o gaúcho falquejou a canga para os bois puxarem as estradas do Rio Grande.
• Carneadeira, chavasca, prateada, língua de chimango, ferro branco, choco, xerenga... seja qual for a denominação popular, a faca, o facão e a adaga estão incorporados à vida do homem sul-rio-grandense.
• É tal a sua utilidade que no campo ou na cidade, o gaúcho que se preza tem sua faca à mão.
• A faca sangra a rês. Coureia, longueia, carneia, prepara a costela para o assado e o couro pra o laço: corta o churrasco e apara os tentos. Enquanto o piá com sua faquinha prepara a forquilha para o bodoque, a velha, na cozinha corta o charque para o "arroz de carreteiro".
• Em noites de São João, a gauchinha crava a faca no tronco da bananeira, para antecipar a sorte. Com a faca cortando a terra o campeiro "vira o casco", cruzando dois capinzinhos sobre a simpatia infalível.
• Faca não se dá. Faca se vende mesmo de presente, pela moeda de menor valor. E o amigo paga para não perder a amizade.
• É com a faca que o gaúcho corta o "amarelinho" para tragar as introspecções do cismarento cigarro de palha.
• Com a faca o gaúcho pelejou em entreveros revolucionários, corpo a corpo; dançou na "faca maruja" e trabalhou, castrando o gado.
• Com a faca o gaúcho falquejou a própria história do Rio Grande.
• Da infância da terra à maturidade histórica, a faca prolongou o braço do gaúcho.
• Do acalanto materno:
Dorme filhinho
Dorme meu amor
Que a faca que corta
Dá talho sem dor
• Ao conselho paterno: "Cavalo de boa boca, mulher de bom gênio, faca de bom fio".
• A faca, uma companheira inseparável do gaúcho!!!
Resolvi no entanto, no presente artigo estender-me em outras considerações sobre o assunto, desenvolvendo ainda mais o que havia escrito em breve trabalho intitulado "vestimenta gaúcha".
Faca gaúcha e suas características gerais
A necessidade do emprego da faca pelo gaúcho em diferentes atividades, aliada a fatores econômicos e sociais da sua própria formação, faz surgir no comércio rio-grandense variados tipos dessa peça.
No entanto, em traços gerais podemos dizer que a faca gaúcha, se caracteriza por ter uma lâmina de seção triangular: com um só gume, sendo a parte superior da lâmina conhecida por "lombo" ou "costas". Apresenta um comprimento em torno de 33 cm e uma largura ao redor de 3,5 cm tendo em algumas delas, na lâmina, além do "gavião" normal, orifícios, ranhuras, entalhes que se relacionam no trabalho do gaúcho, na sua faina campeira. Os cabos são chatos ou meio oitavados (estão presos ao "espigão").
Podem ser de madeira ou chifre. Ou ainda mais delicados, de metal, de prata e ouro, cujas bainhas apresentam desenhos e modernamente cenas ou motivos regionais.
A bainha de couro, metal, couro e metal ou ainda de chifre. A primeira é usada principalmente nas lides campeiras diárias; feitas de couro cru ou sola, muitas vezes bordada com finos tentos. Quando de prata ou níquel, pode ser lavrada, cinzelada ou bordada a ouro, com motivos diversos, acompanhando os desenhos do cabo da faca. Numa bainha destacamos a "ponteira e o bocal", reforços no início e no fim da mesma (às vezes, "anel" no meio): a "espera" ou "orelha" responsável por sua fixação na guaiaca. Ampliando a própria bainha, no meio rural, vamos encontra,r às vezes, a chaira, assentador da faca, constituído por uma peça de aço cilíndrica de comprimento médio de 30 cm munido de cabo, onde se assenta o fio da lâmina.
Maneiras de usar
Variando de região para região, a faca pode ser usada na cintura, das seguintes maneiras:
a) à altura das cadeiras, em posição enviezada, com a parte correspondente ao fio, virada para cima, aproveitando o gaúcho comumente, para no cabo que se destaca, pendurar seu relho, através do fiel, (às vezes, as esporas também). Esse costume é habitual no campeiro fronteirisca.
b) do lado do corpo (geralmente do esquerdo) com o fio virado para baixo e o cabo inclinado para frente. Em ambas as posições a faca está segura à cinta ou guaiaca, pela bainha. Pode no entanto ficar esta segura a uma espécie de espera de couro, com alça independente por onde passa o cinto ou a guaica, ficando a faca pendurada, aparecendo junto à perna pelo lado externo. Da mesma forma de como é usado o facão de mato (não confundir com o punhal). Esta modalidade é encontradiça entre gaúchos dos "Campos de Cima da Serra". No período em que a moda fazia obrigatório o uso do colete a cava deste era lugar seguro para o gaúcho da cidade, calçar sua pequena faca. Desapareceram também os gaúchos atrevidaços de "faca na bota"...
Denominações folclóricas
Xerenga ou ainda caxerengue — Faquinha pequena, velha. Julgamos derivar de caxiringuengue — faca velha; sem cabo; oriundo do indígena kiceringuengue; do kice — faca segundo Coruja, ou de quice mais renguenque, este do afro, segundo Spalding. Estas denominações também conhecidas em outros estados do Brasil.
Chavasca — Fronteirismo galponeiro. Possivelmente de chavascada. Existe também chavasco — tosco, grosseiro.
Choto — Faca pesada, feio.
Língua de ximango — O formato de lâmina — comprida e fina — lembra a língua do ximango, (Milvago e eluroecephalus) ave de rapina dos campos do Rio Grande do Sul.
Ferro branco — De arma branca.
Prateada — Devido ao cabo ou à bainha (ou ambos) serem de prata ou metal dessa cor.
Farinheira — de lâmina larga tornando-se própria para servir farinha no churrasco.
Carneadeira — Especificamente própria para tirar couro e evitar furos nos mesmos. Com a ponta volteada para cima. Extensivo a qualquer faca afiada.
Adaga — Do latim daga. Arma de defesa pessoal. Geralmente possui junto ao cabo uma guarda em forma de S. Tem um comprimento maior do que as facas normais; fio num dos lados de toda a lâmina ou, ainda, acrescido na extensão próxima da ponta do outro lado: ou dois gumes em toda a distância: um sulco de cada lado da lâmina, no sentido de seu comprimento. O "espigão não fica no prolongamento do lombo" como nas demais, mas sim no meio da lâmina.
Faca famosa de outrora
Dentre elas destacamos uma, integrada até mesmo hoje, no folclore gauchesco: "a coqueiro". Não era fabricada na cidade de Pelotas, como muitos pensam, mais sim importada pela firma Scholberg, cuja sede comercial estava em Liége, Bélgica. A referida firma, com filiais em Montevidéu, sob o nome de Broqua & Scholberg e na cidade de Rosário na Argentina, estabeleceu em Pelotas, no ano de 1850, uma outra filial, sob a razão comercial Joucia, Scholberg & Silva. Como sócios faziam parte, além de pelotenses, o francês Leopoldo Joucia, vice-cônsul da França (ou pessoa representativa daquele governo) e que também estava ligado ao comércio de famosos vinhos franceses. Mais tarde outro gaulês incorporou-se à firma: Armand Gadet.
Mas a firma Scholberg pelotense era especializada na importação de armas, metais finos, talheres, cutelaria fina, ferragens, apetrechos de caça, munições, artigos de cristofel, quinquilharias afora peças que no decorrer de seu desenvolvimento comercial foram importantes fornecedores e das quais realizamos precioso levantamento, inclusive fotográfico com slides e cujos estudos daremos divulgação oportunamente.
Esta firma, na grande parte de seus artigos especialmente os de "metal branco garantido", traziam gravados além desses dizeres, a insígnia de um pé de coqueiro ou uma estrela de cinco pontas.
As facas vinham da Bélgica quase prontas recebendo aqui a postura do cabo e bainha. Dentro de vários tipos dos catálogos que Jouela, Scholberg & Silva possuíam, o gaúcho dava preferência à marca do "coqueiro" e desta a "coqueiro deitado", pois era um "ferro branco para qualquer lida"...
Esta marca aparecia junto ao cabo, colocada ao longo da lâmina (no comprimento) paralelo ao gume. Existia também o "coqueiro em pé", em que o mesmo ficava com a base virada para o fio, ou melhor, na largura da lâmina. O curioso é que em frente da própria firma — Andrades Neves, 651 em Pelotas, existia um pé de coqueiro, além de ver-se a título de propaganda, presa a distância da parede da referida casa, uma enorme faca colocada paralelamente a uma não menor espingarda de caça.
Não sei se o coqueiro ali visto já existia na via pública ou foi plantado posteriarmente pelos fundadores da firma. Teria o mesmo motivado o nome da marca? Ou ainda servido de inspiração ou aproveitamento para que o nome do famoso aço "coqueiril", dos quais as facas serem confeccionadas, fosse auditivamente associada ao coqueiro, pelo nosso gaúcho do campo, para maiores efeitos comerciais e publicitários, perfeitamente compreensível na época.
Mas a verdade é que embora a firma tivesse cerrado suas portas em 1936, ainda hoje, na esquina de fronte, onde outrora se transferira — atualmente ocupada pela casa Alegre — encontra-se um pé de coqueiro que, ferindo o plano urbanistíco do centro da Princesa do Sul, ainda é conservado como tradição na cidade, juntamente com outro existente na frente do colégio Gonzaga.
Atualmente quem tem a felicidade de possuir uma faca "coqueiro" a guarda como verdadeira jóia gauchesca. Talvez por isso o brilhante poeta chucro do pago Jaime Caetano Braum, dedicou-lhe este poema:
Faca coqueiro
Cabo de madeira branca
E a folha de palmo e meio,
Esta faca que palmeio
Sovando uma palha buena
Larga, assim como novena
Nas festanças do Divino
Foi presente do Galdino
Filho de Dona Pequena!
Na prancha meio azulada
Deste regalo campeiro
Está gravado um coqueiro
Assim como um distintivo
Que me faz lembrar, altivo,
O charrua melenudo.
Bombeando longe, sisudo,
O velho solo nativo!
É nesse ferro crioulo
Que o meu fôlego embacia,
A cancha reta bravia
Por onde o fumo se espalha,
Com ele eu ajeito a palha,
Longueio, e, aparo crina,
E a barba, pra ver a china
Quando não tenho navalha!
Quando corto meu churrasco
Deixo branqueando o espeto,
E se na encrenca dos meio
Não sobre garrafa inteiro
Pois este ferro campeiro
De ponta como de prancha
Tem mania de abrir cancha
No costilhar do parceiro!
Por isso é que ao te palmear,
Sovando a palha de milho
Eu sinto, ó rude utensílio
Que muito primeiro que eu
O guasca já te benzeu
Quando num berro de touro,
Junto ao "bendito"de couro
Nalgum rival te embebeu!
E ao te arrancar da bainha
De ponteira reforçada
Evoco a rudez passada,
De teu áspero trajeto
Quando o xiru analfabeto
Contigo de companheira
Nas andanças da fronteira
Lonqueava o nosso dialeto!
Traste mil vezes relíquia
Por ser presente de amigo:
Hei de levar-te comigo
Sempre ao alcance do braço
E acolherar no teu aço
O presente e o passado
Até que pranche enredado
Por algum "seio de laço"!
E fica certo, Galdino
Ao te agradecer de novo,
Que no singelo retovo
Do meu gauderiar sem norte
Esta faca enquanto corte,
Até os últimos momentos,
Há de estar lonqueando os tento
Da nossa amizade forte!
A faca
• Do paleolítico à idade dos metais, a faca acompanha a história da humanidade.
• Aço... Damasco, Toledo, lança, espada, adaga e faca. Impérios, conquistas, invasões, vitórias, derrotas, domínios... assim o homem escreveu a própria história.
• Na América... espanhóis e portugueses. A lança e as espadas definiram as fronteiras sul-americanas. A miscigenação racial e o meio plasmaram os tipos humanos.
• O Pampa e a guerra, e o pastoreio. Gaúcho, tipo característico da América do Sul.
• Peleia, faca, adaga, boleadeiras e mango.
• Dificilmente definiríamos a história social do gaúcho, sem a complementação da faca. Na luta, no trabalho, nas lides domésticas, nas artes campeiras, na lenda, na superstição.
• Da infância da terra à maturidade histórica, a faca é uma constante na vida do gaúcho primitivo, tirou as botas "garrão de potro" e nestas aprestilhou as velhas esporas "nazarenas" com rosetas pontiagudas que impulsionaram o cavalo.
• Com a faca talhou o couro para retovar as três pedras das boleadeiras, indispensáveis outrora nas lides campeiras e temíveis na guerra. E atou a faca na ponta de uma taquara, quando os clarins reclamaram as lanças crioulas nas extremaduras da Pátria.
• O gaúcho primitivo desprezou a arma de fogo e a nobreza da luta estava no ferro branco.
• Com a faca o gaúcho agrediu e defendeu. Faca "voluntária" numa peleia... Faca que, debaixo dos pelegos, tranquiliza o sono.
• Com a faca o gaúcho cortava a própria melena ou "aparava trança de china". Tosava de cola e crina e aparava os casos do pingo nas vésperas de carreira.
• O guasca enamorado, com a faca apanhou a flor que ofereceu à sua amada. Beijando a cruz da adaga o guasca traído jurou vingança. E o "aço que canta" corcoveava na bainha bordada de flores.
• Com a faca o gaúcho falquejou a canga para os bois puxarem as estradas do Rio Grande.
• Carneadeira, chavasca, prateada, língua de chimango, ferro branco, choco, xerenga... seja qual for a denominação popular, a faca, o facão e a adaga estão incorporados à vida do homem sul-rio-grandense.
• É tal a sua utilidade que no campo ou na cidade, o gaúcho que se preza tem sua faca à mão.
• A faca sangra a rês. Coureia, longueia, carneia, prepara a costela para o assado e o couro pra o laço: corta o churrasco e apara os tentos. Enquanto o piá com sua faquinha prepara a forquilha para o bodoque, a velha, na cozinha corta o charque para o "arroz de carreteiro".
• Em noites de São João, a gauchinha crava a faca no tronco da bananeira, para antecipar a sorte. Com a faca cortando a terra o campeiro "vira o casco", cruzando dois capinzinhos sobre a simpatia infalível.
• Faca não se dá. Faca se vende mesmo de presente, pela moeda de menor valor. E o amigo paga para não perder a amizade.
• É com a faca que o gaúcho corta o "amarelinho" para tragar as introspecções do cismarento cigarro de palha.
• Com a faca o gaúcho pelejou em entreveros revolucionários, corpo a corpo; dançou na "faca maruja" e trabalhou, castrando o gado.
• Com a faca o gaúcho falquejou a própria história do Rio Grande.
• Da infância da terra à maturidade histórica, a faca prolongou o braço do gaúcho.
• Do acalanto materno:
Dorme filhinho
Dorme meu amor
Que a faca que corta
Dá talho sem dor
• Ao conselho paterno: "Cavalo de boa boca, mulher de bom gênio, faca de bom fio".
• A faca, uma companheira inseparável do gaúcho!!!
Resolvi no entanto, no presente artigo estender-me em outras considerações sobre o assunto, desenvolvendo ainda mais o que havia escrito em breve trabalho intitulado "vestimenta gaúcha".
Faca gaúcha e suas características gerais
A necessidade do emprego da faca pelo gaúcho em diferentes atividades, aliada a fatores econômicos e sociais da sua própria formação, faz surgir no comércio rio-grandense variados tipos dessa peça.
No entanto, em traços gerais podemos dizer que a faca gaúcha, se caracteriza por ter uma lâmina de seção triangular: com um só gume, sendo a parte superior da lâmina conhecida por "lombo" ou "costas". Apresenta um comprimento em torno de 33 cm e uma largura ao redor de 3,5 cm tendo em algumas delas, na lâmina, além do "gavião" normal, orifícios, ranhuras, entalhes que se relacionam no trabalho do gaúcho, na sua faina campeira. Os cabos são chatos ou meio oitavados (estão presos ao "espigão").
Podem ser de madeira ou chifre. Ou ainda mais delicados, de metal, de prata e ouro, cujas bainhas apresentam desenhos e modernamente cenas ou motivos regionais.
A bainha de couro, metal, couro e metal ou ainda de chifre. A primeira é usada principalmente nas lides campeiras diárias; feitas de couro cru ou sola, muitas vezes bordada com finos tentos. Quando de prata ou níquel, pode ser lavrada, cinzelada ou bordada a ouro, com motivos diversos, acompanhando os desenhos do cabo da faca. Numa bainha destacamos a "ponteira e o bocal", reforços no início e no fim da mesma (às vezes, "anel" no meio): a "espera" ou "orelha" responsável por sua fixação na guaiaca. Ampliando a própria bainha, no meio rural, vamos encontra,r às vezes, a chaira, assentador da faca, constituído por uma peça de aço cilíndrica de comprimento médio de 30 cm munido de cabo, onde se assenta o fio da lâmina.
Maneiras de usar
Variando de região para região, a faca pode ser usada na cintura, das seguintes maneiras:
a) à altura das cadeiras, em posição enviezada, com a parte correspondente ao fio, virada para cima, aproveitando o gaúcho comumente, para no cabo que se destaca, pendurar seu relho, através do fiel, (às vezes, as esporas também). Esse costume é habitual no campeiro fronteirisca.
b) do lado do corpo (geralmente do esquerdo) com o fio virado para baixo e o cabo inclinado para frente. Em ambas as posições a faca está segura à cinta ou guaiaca, pela bainha. Pode no entanto ficar esta segura a uma espécie de espera de couro, com alça independente por onde passa o cinto ou a guaica, ficando a faca pendurada, aparecendo junto à perna pelo lado externo. Da mesma forma de como é usado o facão de mato (não confundir com o punhal). Esta modalidade é encontradiça entre gaúchos dos "Campos de Cima da Serra". No período em que a moda fazia obrigatório o uso do colete a cava deste era lugar seguro para o gaúcho da cidade, calçar sua pequena faca. Desapareceram também os gaúchos atrevidaços de "faca na bota"...
Denominações folclóricas
Xerenga ou ainda caxerengue — Faquinha pequena, velha. Julgamos derivar de caxiringuengue — faca velha; sem cabo; oriundo do indígena kiceringuengue; do kice — faca segundo Coruja, ou de quice mais renguenque, este do afro, segundo Spalding. Estas denominações também conhecidas em outros estados do Brasil.
Chavasca — Fronteirismo galponeiro. Possivelmente de chavascada. Existe também chavasco — tosco, grosseiro.
Choto — Faca pesada, feio.
Língua de ximango — O formato de lâmina — comprida e fina — lembra a língua do ximango, (Milvago e eluroecephalus) ave de rapina dos campos do Rio Grande do Sul.
Ferro branco — De arma branca.
Prateada — Devido ao cabo ou à bainha (ou ambos) serem de prata ou metal dessa cor.
Farinheira — de lâmina larga tornando-se própria para servir farinha no churrasco.
Carneadeira — Especificamente própria para tirar couro e evitar furos nos mesmos. Com a ponta volteada para cima. Extensivo a qualquer faca afiada.
Adaga — Do latim daga. Arma de defesa pessoal. Geralmente possui junto ao cabo uma guarda em forma de S. Tem um comprimento maior do que as facas normais; fio num dos lados de toda a lâmina ou, ainda, acrescido na extensão próxima da ponta do outro lado: ou dois gumes em toda a distância: um sulco de cada lado da lâmina, no sentido de seu comprimento. O "espigão não fica no prolongamento do lombo" como nas demais, mas sim no meio da lâmina.
Faca famosa de outrora
Dentre elas destacamos uma, integrada até mesmo hoje, no folclore gauchesco: "a coqueiro". Não era fabricada na cidade de Pelotas, como muitos pensam, mais sim importada pela firma Scholberg, cuja sede comercial estava em Liége, Bélgica. A referida firma, com filiais em Montevidéu, sob o nome de Broqua & Scholberg e na cidade de Rosário na Argentina, estabeleceu em Pelotas, no ano de 1850, uma outra filial, sob a razão comercial Joucia, Scholberg & Silva. Como sócios faziam parte, além de pelotenses, o francês Leopoldo Joucia, vice-cônsul da França (ou pessoa representativa daquele governo) e que também estava ligado ao comércio de famosos vinhos franceses. Mais tarde outro gaulês incorporou-se à firma: Armand Gadet.
Mas a firma Scholberg pelotense era especializada na importação de armas, metais finos, talheres, cutelaria fina, ferragens, apetrechos de caça, munições, artigos de cristofel, quinquilharias afora peças que no decorrer de seu desenvolvimento comercial foram importantes fornecedores e das quais realizamos precioso levantamento, inclusive fotográfico com slides e cujos estudos daremos divulgação oportunamente.
Esta firma, na grande parte de seus artigos especialmente os de "metal branco garantido", traziam gravados além desses dizeres, a insígnia de um pé de coqueiro ou uma estrela de cinco pontas.
As facas vinham da Bélgica quase prontas recebendo aqui a postura do cabo e bainha. Dentro de vários tipos dos catálogos que Jouela, Scholberg & Silva possuíam, o gaúcho dava preferência à marca do "coqueiro" e desta a "coqueiro deitado", pois era um "ferro branco para qualquer lida"...
Esta marca aparecia junto ao cabo, colocada ao longo da lâmina (no comprimento) paralelo ao gume. Existia também o "coqueiro em pé", em que o mesmo ficava com a base virada para o fio, ou melhor, na largura da lâmina. O curioso é que em frente da própria firma — Andrades Neves, 651 em Pelotas, existia um pé de coqueiro, além de ver-se a título de propaganda, presa a distância da parede da referida casa, uma enorme faca colocada paralelamente a uma não menor espingarda de caça.
Não sei se o coqueiro ali visto já existia na via pública ou foi plantado posteriarmente pelos fundadores da firma. Teria o mesmo motivado o nome da marca? Ou ainda servido de inspiração ou aproveitamento para que o nome do famoso aço "coqueiril", dos quais as facas serem confeccionadas, fosse auditivamente associada ao coqueiro, pelo nosso gaúcho do campo, para maiores efeitos comerciais e publicitários, perfeitamente compreensível na época.
Mas a verdade é que embora a firma tivesse cerrado suas portas em 1936, ainda hoje, na esquina de fronte, onde outrora se transferira — atualmente ocupada pela casa Alegre — encontra-se um pé de coqueiro que, ferindo o plano urbanistíco do centro da Princesa do Sul, ainda é conservado como tradição na cidade, juntamente com outro existente na frente do colégio Gonzaga.
Atualmente quem tem a felicidade de possuir uma faca "coqueiro" a guarda como verdadeira jóia gauchesca. Talvez por isso o brilhante poeta chucro do pago Jaime Caetano Braum, dedicou-lhe este poema:
Faca coqueiro
Cabo de madeira branca
E a folha de palmo e meio,
Esta faca que palmeio
Sovando uma palha buena
Larga, assim como novena
Nas festanças do Divino
Foi presente do Galdino
Filho de Dona Pequena!
Na prancha meio azulada
Deste regalo campeiro
Está gravado um coqueiro
Assim como um distintivo
Que me faz lembrar, altivo,
O charrua melenudo.
Bombeando longe, sisudo,
O velho solo nativo!
É nesse ferro crioulo
Que o meu fôlego embacia,
A cancha reta bravia
Por onde o fumo se espalha,
Com ele eu ajeito a palha,
Longueio, e, aparo crina,
E a barba, pra ver a china
Quando não tenho navalha!
Quando corto meu churrasco
Deixo branqueando o espeto,
E se na encrenca dos meio
Não sobre garrafa inteiro
Pois este ferro campeiro
De ponta como de prancha
Tem mania de abrir cancha
No costilhar do parceiro!
Por isso é que ao te palmear,
Sovando a palha de milho
Eu sinto, ó rude utensílio
Que muito primeiro que eu
O guasca já te benzeu
Quando num berro de touro,
Junto ao "bendito"de couro
Nalgum rival te embebeu!
E ao te arrancar da bainha
De ponteira reforçada
Evoco a rudez passada,
De teu áspero trajeto
Quando o xiru analfabeto
Contigo de companheira
Nas andanças da fronteira
Lonqueava o nosso dialeto!
Traste mil vezes relíquia
Por ser presente de amigo:
Hei de levar-te comigo
Sempre ao alcance do braço
E acolherar no teu aço
O presente e o passado
Até que pranche enredado
Por algum "seio de laço"!
E fica certo, Galdino
Ao te agradecer de novo,
Que no singelo retovo
Do meu gauderiar sem norte
Esta faca enquanto corte,
Até os últimos momentos,
Há de estar lonqueando os tento
Da nossa amizade forte!
(Cortes, J. C. Paixão. "Gaúchos de faca na bota ".)
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